

Na rua da saudade ouvem-se choros,
Quase inaudíveis, mas presentes,
Dando a ela esse jeito melancólico.
O vento sopra frio e arrepia as pessoas.
Estão todas nuas.
Já não têm o que esconder,
A dor lhes tirou tudo,
Lhes tirou aqueles que amavam,
O esplendor da vida.
Velhos, viúvas, amantes e órfãos,
Todos despidos, solitários,
Chorando desconsoladamente,
Desesperados e serenos,
Pensando naqueles que morreram,
Nos momentos felizes,
Naqueles que estão longe,
Naqueles que nem sabem onde estão
Ou naqueles que os abandonaram.
Deixados à míngua nessa saudade mórbida,
Entregues ao puro sofrimento,
Tentando resistir à dor em vão.
Passam a eternidade deprimidos, reprimidos,
Os olhos desesperançosos perscrutando o chão,
Como se os queridos fossem ressurgir dos paralelepípedos lamacentos.
Estão presos.
Jamais se libertarão.
Foi-lhes tirada cada gota do desejo de viver.
Mas não podem morrer,
Mal têm forças para se matar,
Não conseguem deixar de existir.
Estão condenados a esse lugar de prantos ininterruptos.
A esse lugar doentio.
(M.L)