sábado, 20 de setembro de 2008

Rua da Saudade



Na rua da saudade ouvem-se choros,

Quase inaudíveis, mas presentes,

Dando a ela esse jeito melancólico.

O vento sopra frio e arrepia as pessoas.

Estão todas nuas.

Já não têm o que esconder,

A dor lhes tirou tudo,
Lhes tirou aqueles que amavam,

O esplendor da vida.

Velhos, viúvas, amantes e órfãos,

Todos despidos, solitários,

Chorando desconsoladamente,

Desesperados e serenos,

Pensando naqueles que morreram,

Nos momentos felizes,

Naqueles que estão longe,

Naqueles que nem sabem onde estão

Ou naqueles que os abandonaram.

Deixados à míngua nessa saudade mórbida,

Entregues ao puro sofrimento,

Tentando resistir à dor em vão.

Passam a eternidade deprimidos, reprimidos,

Os olhos desesperançosos perscrutando o chão,

Como se os queridos fossem ressurgir dos paralelepípedos lamacentos.

Estão presos.

Jamais se libertarão.

Foi-lhes tirada cada gota do desejo de viver.

Mas não podem morrer,
Mal têm forças para se matar,

Não conseguem deixar de existir.

Estão condenados a esse lugar de prantos ininterruptos.

A esse lugar doentio.

(M.L)