quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sem título - Um curto Prólogo

Achei uns velhos rascunhos, dentre eles um que continha o começo de uma história. Resolvi continuá-la pra ver no que dá. Também não é nada demais, provavelmente não vai ser nada muito bom. Mas vai ser um passatempo. Ainda não tenho a mínima idéia de como será final, mas acho que vou trabalhar nisso durante essas férias. Honestamente, nem espero que alguém goste. Se é que qualquer meia dúzia de gatos pingados (quando muito) chegará a lê-la um dia. Esse prólogo ainda não diz sobre o que ela discorre de fato. Como ainda está curto, vou acrescentando conteúdo ao passo que me agradar.
(M.L)
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Prólogo



Os passos tortos do mendigo pisavam a rua mal-iluminada, e, ébrios, tentavam achar o caminho de algum lugar não muito poeirento para se deitar. E esperar a ressaca que viria com o amanhecer. Tropeçava constantemente, caindo com pouca frequência. Geralmente apenas cambaleava por dois ou três metros até retomar o equilíbrio. As pernas trêmulas bambeavam tentando se estabilizar de uma vez por todas. Sem sucesso.

Os trajes evidenciavam que o tempo decorrido desde que estivera em um abrigo não era pouco. Meses, talvez anos. Rasgados com alguns remendos improvisados, permitindo que os ventos alcançassem cada modesta curva daquele corpo raquítico. Andava encolhido. Arrepiado. Os olhos sempre perscrutando a imundície do chão.

Era o retrato da decadência. O rosto transfigurado pelo sofrimento e pela necessidade que passava a cada dia. A dificuldade com que acordava todas as manhãs se refletia em cada traço de sua face, revelando os sulcos que lhe foram cavados no rosto ao longo de sua jornada miserável pelas selvas do egoísmo urbano. Já deixara de ser gente. Já não passava de um animal desprezível largado pelas ruas à própria sorte. Não era um cidadão. Não tinha direitos. Não era reconhecido. Não era. A barba, precocemente grisalha e assimétrica, se misturava a seus cabelos desgrenhados e sujos, vítimas do seu desleixo e da sujeira com que lidava cotidianamente. De toda forma o asseio já não era necessário. Não fazia mais parte da vida que levava. Que era obrigado a levar, queresse ou não.

Sabia que o desnecessário precisava ser cortado, sem questionamentos. Sobreviver era o único objetivo. Mas sobreviver para quê? Também não sabia ao certo. Era a vã esperança de que algo melhorasse, que algum dia pudesse gozar de algum prazer da vida para esquecer os tantos amargores aos quais se submetia. Sabia que lhe era inalcançável. Mas temia a morte. Preferia continuar se iludindo com utopias, imaginando uma vida melhor, mesmo sabendo que esta nunca viria. Era só questão de tempo até que seu corpo parasse de funcionar. A morte provavelmente chegaria com o inverno. E tinha quase certeza de que não sustentaria a própria sobrevivência por mais algumas semanas. Não sabia se era capaz.

Entretanto, e acima de tudo, sabia que a estação mais fria do ano chegaria depressa. Tinha medo, necessidade de um abrigo.

E esperanças.

Tolo.

Parou e se recolheu onde julgou mais viável.


*****


Não longe dali, dois vultos o observavam, razoavelmente decepcionados. O mendigo bebia. Significava um lucro menor. Bem menor.

Um comentário:

  1. Boom... Muito bom o prólogo, apesar de curto. Continua escrevendo. =D


    Só não entendi o final, a parada do lucro... Mas acho que não era pra se entender mesmo.

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