terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Nada de novo no Front



Tocou o alarme do despertador. Levantou-se da cama lentamente e, desanimado, foi andando até a cozinha, ainda parcialmente atordoado pelo sono. O aroma exalado pelo café tomava o lugar por completo, invadindo suas narinas e despertando-lhe a diária preguiça que o cotidiano impunha. A empregada fora arrumar o quarto. Serviu-se do café, passou manteiga numas torradas e sentiu o mesmo gosto de sempre, já sem achar nele mais graça alguma. Os sagrados e monótonos rituais de toda manhã, que o tempo há tanto desgastara. Que a solidão há tanto desgastara.

Catou o jornal do dia. Abriu-o e pôs-se a lê-lo. Tiroteios. Alguns mortos, outros tantos feridos. Assassinatos em todas as páginas, corrupção, mais umas mortes e a tabela do campeonato. As mesmas notícias, os mesmos acontecimentos em todo lugar ao seu redor. Dobrou o jornal e deixou-o de lado. Maldito jornal.

Agora está só na cozinha, com uma xícara de café esfriando à sua frente e algumas torradas mordiscadas. O café da manhã pela metade. Ele fita o nada. O olhar perdido. E assim fica, vazio, quando lembra que é hora de enfrentar mais uma vez o caos urbano que o cerca, sair rumo a mais um dia monótono, sabendo que o próximo será igual. Abandonado por si mesmo no próprio cotidiano.

Assim será. Sempre.

E ponto final.




(M.L.)

2 comentários:

  1. Nada como um dia após o outro...
    Lá vou eu amanhã trabalhar numa fábrica imunda com prensas e lixadeiras... Pensando no amanhã. Afinal eu moro no Japão, país muito afetado pela crise e tenho muitos amigos desempregados e voltando para o seu país... O que acontecerá comigo amanhã? Tem dias que fico assim. Um dia sim outro também.
    Sobre Dawkins e Collins.Dawkins claro! Mas o Carl Sagan é ainda mais convincente.
    Abraços e ótimo trabalho com seu blog.

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  2. também gostei muito do seu blog, também tomei a liberdade de acompanhá-lo por achar o que está escrito muito interessante, este é meu tipo de texto favorito.

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