
Eu andava num gramado macio. Era mais verde e vivo do que os comuns. Talvez fosse porque você estava lá para fazer tudo melhor, mais belo. O dia era suavemente ensolarado e uma brisa delicada soprava em nossos rostos. Os passos silenciosos caminhavam em harmonia rumo ao nada, simplesmente atravessando o espaço e cortando o vento para alcançar qualquer lugar. Eu já não sabia quem era. Eu. Assim, sem nome e sem lembranças, sem passado.
Meus olhos procuravam os seus, em busca de segurança e respostas. Mas os seus fugiam, recusando-se a ceder-me sua atenção. Eu achava não ser capaz de pensar por mim mesmo, tampouco de andar por mim mesmo. Temia que voce soltasse a minha mão e eu caísse. Eu não sabia de você. Eu te amava. Sem ao menos saber por que. Mas você não me soltou. Continuou a me segurar, a caminhar comigo de cabeça baixa, com o rosto escondido entre os cabelos escuros, que refletiam a luz já fraca do sol já poente. Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia nada. Deixei-me levar por teus passos.
Tentei me aproximar mais. Você se afastou bruscamente. Soltou-me e foi para longe de mim. Mas não caí. Deixou-me ali, parado, te fitando de costas, sem me dar conta do caos que tomava meu interior e exterior. Eu simplesmente jazia ali inerte, sob o céu já enegrecido num tom acinzentado, sem vida. A escuridão começava a cercar tudo, prenunciava o desastre sem que eu percebesse. Você se virou para mim, ainda sem revelar o rosto. E foi se desmanchando, se transformando em cinzas que aquela brisa levava ao alto e desaparecia, transfigurada em pó. Corri tomado pelo desespero para te alcançar e fazer algo que nem sabia o que. Mas fazia-o em vão. Não havia mais você.

(M.L)
Dizem que os sonhos são as verdades que queremos encontrar, ligados ao subconsciente..
ResponderExcluirLindo texto,parabéns.
Belo texto. Sempre de acordo com o título do blog. Utópico, niilista.
ResponderExcluirGosto muito de textos assim. Têm vocação para escritor.
E muito obrigado pelo comentário no meu blog.
Abraços!
obrigada por ter sido "linkada"... haha, olha, amei o texto. ficou surreal e bem descrito!
ResponderExcluirO tal pó para mim é o que me resta.
ResponderExcluirÓtimo texto.