sábado, 21 de fevereiro de 2009

Voraz


Deita-se todas as noites em novo leito, sem se cansar de sacrificar seu corpo repetidamente a volúpia. Uma musa insaciável. Sorve de seus machos todo o vigor, deixa-os ofegantes, e ainda insatisfeita implora por mais. Mas eles não passam de escravos submissos. Paixões intensas de noites vazias.

A depressão sempre vem ao amanhecer. A história é a mesma. Larga o amante ao resplandecer da primeira luz da alvorada, sentindo o mais puro nojo dele e de todo o ambiente em que acorda, qualquer que seja. E de si, só a mais pura pena. Entrega-se ao choro no caminho de volta ao que lhe serve de abrigo durante o dia. Não chega a ser um lar. Já não tem ideia do que é ter um lar. Soluça, entre gritos e lamentações, pela solidão que a consome. E por fim adormece, após tanto se debater contra as paredes velhas e quebradiças de seu quarto, socando-as com as poucas forças que lhe restam, como se enfrentasse seus medos, achando que de algum modo pudesse descarregar nelas sua raiva e se curar de tudo o que sente.

Descansa o corpo saturado. E novamente acorda em desespero ao sentir o vazio da solidão lancinante e aterradora. Voa apressada até a rua, sentindo a sede violenta por sexo e companhia noite adentro. Qualquer um a leva para casa após um prato de comida, uns drinks e alguns cigarros. Já mal consegue ser uma puta. O pagamento se reduz a nada além do necessário para a subsistência. E jamais consegue preencher as lacunas frias e infinitas que a habitam. Sua vida orgásmica é previsível. Seu ignóbil desejo é sentir-se amada. Fracassa outra vez. O desenlace se repete.

6 comentários:

  1. Nada como um post erótico que se desencadeia na tão comum e conhecida solidão. Pois é, o primeiro parágrafo fez o Guedes grunhir, mas eu sabia que o texto ia render. Colocou muito bem uma realidade, né? Me lembrou até o Charlie do Two and a Half men...
    Nada como a companhia de um ser amado...

    Bom texto! Me fez refletir...sempre fazem =P

    L&S

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  2. Mario, eu queria escrever metade do que você escreve, sem sacanagem.

    Muito bom; pra variar, embora esse não tenha sido um dos meus preferidos.

    Quantas vezes você revisa esses seus textos?

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  3. Esse post mostra bem o que sente as pessoas promíscuas, independente de ser homem ou mulher. Promiscuidade só faz as pessoas se sentirem ainda mais só, é quase uma droga: vicia e nunca nos satisfaz...

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  4. Adorei o texto e a forma como retrata a solidão e aqueles que vivem uma vida sem amor.

    Tem um desafio para responder no meu blog. Até lá, uma beijinho português.

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